Os rios municipais desempenham um papel vital no abastecimento, na manutenção da biodiversidade e no suporte às atividades econômicas e recreativas das comunidades locais. No entanto, estão passando por um processo de degradação progressiva, caracterizado como um “declínio em espiral”. Esse fenômeno ocorre devido à combinação de fatores antrópicos e ambientais que se retroalimentam, agravando a situação ao longo do tempo. O despejo de esgotos domésticos, industriais e agrícolas nos rios contribui para a contaminação por nutrientes, metais pesados e produtos químicos. Esse processo leva à eutrofização, causando proliferação de algas, redução do oxigênio dissolvido e morte de peixes e outros organismos aquáticos. O desmatamento das áreas ciliares e o manejo inadequado do solo nas bacias hidrográficas promovem a erosão e o assoreamento. Isso reduz a capacidade de armazenamento e vazão dos rios, aumentando o risco de enchentes e diminuindo a qualidade da água.
O uso excessivo da água para irrigação e abastecimento urbano, aliado à captação irregular, compromete o fluxo natural dos rios. A redução do volume hídrico agrava a concentração de poluentes e prejudica a fauna aquática.
A destruição da vegetação nativa ao longo das margens elimina a proteção natural contra erosão, reduz a infiltração e compromete a estabilidade ecológica.
Essa perda também diminui a capacidade de filtração de sedimentos e poluentes antes que alcancem os corpos d’água. Eventos climáticos extremos, como secas e chuvas intensas, amplificam os efeitos do declínio em espiral, exacerbando a degradação ambiental e comprometendo a resiliência dos rios.
A recuperação dos rios municipais é um desafio urgente que exige a adoção de estratégias ecológicas e sustentáveis. Romper com o ciclo de degradação e estabelecer um novo paradigma de gestão ambiental é essencial para garantir a disponibilidade de água, a preservação da biodiversidade e a qualidade de vida das populações locais. A tabela em anexo lista diretrizes básicas para reverter o declínio em espiral dos rios municipais, sendo essencial adotar medidas integradas de gestão ambiental e políticas públicas sustentáveis.
Afonso Peche Filho
Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas
28/12/2024